Medo da Violência Sexual Afasta Mais de 400 Mulheres da Prática da Corrida em Porto Alegre e Região

Violência Sexual Afasta Mulheres das Corridas em Porto Alegre


André Ávila / Agencia RBS
Cerca de 350 corredoras já foram importunadas sexualmente em meio às práticas esportivas, segundo a pesquisa.

O receio de se tornar vítima de violência sexual fez com que 443 mulheres deixassem de praticar corridas em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Os dados foram divulgados na última sexta-feira (7) pelo Movimento das Mulheres Corredoras, que conduziu um levantamento com 519 participantes durante o mês de agosto.

Este número representa aproximadamente 85,5% das respostas coletadas pelo questionário digital aplicado pelo movimento. Apenas 76 corredoras afirmaram que não abandonaram a atividade física em momento algum devido ao medo da violência sexual.

Aline Ferreira D’ávila, assistente social de 37 anos e membro ativo do movimento, expressou seu descontentamento: — “Logo aquilo que pode nos gerar saúde física e mental é simplesmente abortado por um medo que nos toma conta diariamente. É um duplo dano à nossa saúde, não praticar atividade física e sentir medo constantemente”.

Aline, que corre na Redenção há quatro anos, foi vítima de importunação sexual em julho do ano passado. Em uma manhã de corrida, ela se deparou com um homem tocando suas partes íntimas enquanto a observava.

Segundo a pesquisa, aproximadamente 350 corredoras já foram importunadas sexualmente durante a prática esportiva, o que corresponde a cerca de 67% dos participantes. Além disso, cerca de 48,7% relataram já ter sofrido assédio sexual, totalizando cerca de 250 corredoras afetadas.

Ocorrências e notificação

Os dados apresentados pelo movimento são alarmantes e refletem uma preocupante subnotificação dos casos às autoridades.

Aline revelou que mais de 90% das mulheres não registraram boletins de ocorrência, seja por falta de confiança na eficácia, medo, vergonha ou constrangimento.

A pesquisa também identificou os locais mais frequentes onde ocorreram episódios de assédio e importunação. A maioria das situações foi relatada nas ruas, com 35% dos casos ocorrendo na Redenção e cerca de 28% na orla do Guaíba.

A pesquisa

Realizada durante agosto de 2024, a pesquisa foi aplicada por meio de um formulário digital. Os resultados foram divulgados nas redes sociais do Movimento das Mulheres Corredoras e compartilhados em grupos de WhatsApp. O foco do questionário era relatar experiências pessoais das corredoras da região, sem especificar o período temporal dos incidentes.

Do total de 519 respostas, 93,28% afirmaram ser residentes de Porto Alegre. A maioria possui entre 26 e 35 anos e são predominantemente brancas (83,1%), heterossexuais (81,94%), pós-graduadas (42,27%) e sem filhos (68,3%). O levantamento indica que 30,49% dessas corredoras começaram a praticar essa atividade física há cerca de dois anos.

O objetivo do movimento é conduzir informações de forma mais qualificada sobre o desrespeito que as corredoras enfrentam para as autoridades competentes.

Aline conclui: — “A pesquisa evidencia a necessidade das instituições reverem seu papel e suas respostas frente à sociedade e a nós mulheres”.

Caso de assédio deu início à luta

O incidente que Aline vivenciou catalisou uma mobilização entre as mulheres que reivindicam o direito de correr na cidade sem temor. Seu relato nas redes sociais encorajou outras mulheres a compartilharem experiências semelhantes, resultando na abertura de um inquérito pela Polícia Civil para investigar a denúncia de assédio.

Um semana após o episódio, teve início uma corrida coletiva com a participação de mais de 100 corredoras, unidas em um apelo por maior segurança nas práticas esportivas da cidade. Outras ações foram realizadas pelo grupo para alertar as autoridades sobre situações similares à enfrentada por Aline.

— As ações do movimento representam uma necessidade real, demandando esforço coletivo para buscar medidas preventivas dos órgãos e instituições, além de cuidados entre as próprias mulheres. — ressalta Aline.

O que dizem as autoridades

Zero Hora procurou a Guarda Municipal de Porto Alegre e a Brigada Militar. O comandante-geral da Brigada, coronel Cláudio dos Santos Feoli, assegurou que esforços têm sido dedicados ao policiamento nas áreas de prática esportiva.

— Trabalhamos para garantir a segurança em todos os locais onde ocorrem atividades esportivas, como a orla do Guaíba e o Parque da Redenção. Realizamos patrulhamentos constantes e abordagens a indivíduos com comportamento suspeito — destacou o comandante.

Ele enfatizou que é crucial que vítimas de assédio notifiquem as autoridades para que medidas possam ser implementadas.

A Secretaria Municipal de Segurança (SMSEG), através da Guarda Municipal, afirmou que o patrulhamento é uma prioridade para garantir a segurança e preservar o patrimônio público. A seguir, a íntegra da nota:

“A SMSEG é responsável pelo patrulhamento preventivo nos espaços públicos de Porto Alegre, assegurando a segurança da população e a preservação do patrimônio municipal.”

“A atuação é contínua em locais de grande movimentação, como a orla do Guaíba e o Parque da Redenção. No parque, temos um posto avançado funcionando 24 horas, além de guarnições e drones monitorando as atividades durante a manhã.”

“Na orla do Guaíba, o posto avançado está temporariamente inativo devido a enchentes, mas o patrulhamento segue ativo, com equipes disponíveis 24 horas para garantir a segurança dos usuários e do espaço público.”

Leia a matéria na integra em: gauchazh.clicrbs.com.br

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