A FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) solicitou recuperação judicial em São Paulo nesta quinta-feira, 13 de outubro, com o objetivo de renegociar dívidas que alcançam R$ 130 milhões. Esse valor representa menos da metade do faturamento líquido da instituição no último ano, que foi de R$ 318 milhões.
De acordo com o reitor da universidade, Ricardo Ponsirenas, a rotina das aulas e os investimentos do grupo não sofrerão alterações. “Não haverá demissões, nem cancelamentos de projetos”, garantiu em entrevista ao Painel S.A. Ele ressaltou que a instituição possui recursos em caixa e, sob a perspectiva da gestão, tudo está funcionando adequadamente. No entanto, a proteção judicial foi considerada uma medida essencial para evitar que o caixa se torne um problema no futuro.
No pedido de recuperação judicial, a FMU revelou ter sentido os impactos de investimentos realizados durante a pandemia para manter as aulas remotas. Desde 2021, a instituição enfrentou restrições no Fies, além de um aumento nas desistências e na inadimplência. Apesar dessas dificuldades, a FMU se organiza desde o final de 2023 para equilibrar sua dívida.
“Graças a esses ajustes operacionais, a FMU prevê uma melhoria significativa em sua margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] ajustada para 2025, projetada em 21,5%. Em 2023, essa margem foi de 14,1%”, informou o pedido de recuperação.
No entanto, a FMU ainda carrega um ônus decorrente de sua história recente. Em 2013, seus fundadores venderam a instituição ao Grupo Laureate. No acordo, os imóveis onde as faculdades estão localizadas foram mantidos pelos antigos proprietários, que passaram a alugá-los para a FMU. Os contratos de locação datam de setembro de 2014, momento em que ocorreu a transferência do controle para o Laureate.
Qualquer pendência resultante de operações anteriores à venda da FMU teria que ser arcada pelos antigos controladores, incluindo despesas com fornecedores, questões financeiras e encargos trabalhistas. Desde então, alguns imóveis chegaram a ser lacrados devido a dívidas prediais, levando os novos controladores a alugar outros locais para transferir as faculdades. Isso gerou uma disputa arbitral que acontece em sigilo.
Em 2023, novos desafios surgiram com atrasos no pagamento do IPTU, resultando em um bloqueio de R$ 7 milhões nas contas da FMU. “Não é difícil entender que a busca dos fundadores para solucionar suas pendências em relação ao crédito influenciou diretamente na situação da empresa e na sua ida à Justiça”, destacou a solicitação.
A FMU conta atualmente com 1.100 funcionários diretos e 2.000 indiretos. Desde 2020, a instituição faz parte do portfólio do fundo de investimento Farallon, que assumiu o controle em decorrência do acordo de compra da Laureate pela Ânima Educação.
Reinvenção
Com o intuito de enfrentar os desafios impostos pela era digital, a FMU tem investido em iniciativas de lifelong learning (ensino ao longo da vida). Esses programas oferecem cursos que não se limitam apenas à graduação, mas incluem também especializações para alunos e profissionais.
Na área tecnológica, a instituição criou a creators academy, que proporciona oportunidades de estágio durante o curso, em colaboração com empresas do setor. Essa ação visa suprir a demanda crescente por mão de obra especializada, que atualmente apresenta um déficit significativo.
Além disso, a FMU mantém um Núcleo de Prática Jurídica, firmando convênios com o Tribunal de Justiça de São Paulo. Na área de saúde, a instituição opera um hospital veterinário e clínicas médicas que funcionam como escolas e atendem cerca de 30 mil pacientes anualmente, oferecendo preços sociais em áreas que vão desde odontologia a psicologia.
Com Stéfanie Rigamonti
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