A Ousadia de Ney Matogrosso: A Exposição que Celebra o Artista em Grande Estilo

Ney Matogrosso: 50 Anos de Música e Libertação no Brasil

Nos últimos 50 anos, o Brasil experimentou diversas transformações sociais e culturais. Para Ney Matogrosso, um dos ícones da música brasileira, o país “encaretou”. Segundo o cantor, “apesar da ditadura, tínhamos muito mais liberdade do que agora”. Matogrosso, famoso por seus figurinos extravagantes e sua voz potente, começou sua trajetória musical em 1972 como vocalista dos Secos e Molhados. Contudo, ele garante que não se está preocupado com uma “sociedade careta”; o foco permanece na sua arte: “Eu sigo fazendo a minha coisa como eu sei fazer.”

Exposição “Ney Matogrosso” no Museu da Imagem e Som

A trajetória de Matogrosso é celebrada em uma exposição recém-inaugurada no Museu da Imagem e Som, em São Paulo, que apresenta a vida e a obra do cantor através das décadas. Na sala inicial da mostra, um grande telão exibe o clipe emblemático de “América do Sul”, uma das músicas mais icônicas de seu álbum solo “Água do Céu – Pássaro”, de 1975, onde Ney canta sobre a “força tropical” do continente.

O clipe é apenas uma de muitas peças que revelam como, aos 83 anos, Ney tem constantemente abordado temas atuais e relevantes na sociedade brasileira. Em 2025, ele celebrará 50 anos de carreira solo, marcada pela discussão de temas como erotismo, não conformidade de gênero e a busca por uma identidade latina.

Os Palcos e o Carisma de Ney

A exposição enfatiza a importância das apresentações ao vivo na carreira de Matogrosso, com quase 200 fotos que retratam momentos históricos de suas performances, desde o auge nos anos 70 até hoje. Em agosto de 2024, o cantor realizou o maior show de sua trajetória, reunindo mais de 40 mil pessoas no Allianz Parque, em São Paulo. “A experiência foi interessante, mas eu não faria de novo. Sinto muita falta de ter contato próximo com o público”, compartilha Ney.

André Sturm, diretor-geral do MIS e curador da exposição, comenta que a ideia de destacar Matogrosso surgiu de sua própria admiração pelo artista e do conhecimento de que muitos itens de seu acervo haviam sido doados ao Senac São Paulo. Esse acervo, repleto de roupas e acessórios utilizados em suas turnês, ganhou um espaço exclusivo na mostra, com mais de 20 manequins exibindo figurinos marcantes.

A Identidade e a Relevância de Ney

Ney Matogrosso revela que seu investimento em fantasias vibrantes teve como propósito criar um personagem que o protegesse durante o início de sua carreira. “As roupas e as maquiagens criavam um personagem interessante pra eu transitar, mas também pra me proteger”, explica o cantor, que enfrentou desafios quanto à sua sexualidade desde jovem.

Criado em Bela Vista, Mato Grosso, Ney deixou sua casa aos 17 anos devido à rejeição do pai, um sargento do Exército, ao saber que seu filho era gay. Essa luta pessoal se refletiu em sua carreira, onde frequentemente enfrentou preconceito. “Eu não sabia nem o que era ‘andrógino’ da primeira vez que me falaram”, conta ele, recordando momentos em que foi alvo de hostilidade durante apresentações.

Apesar da pressão e críticas, Matogrosso sempre manteve uma postura reservada em relação à sua vida pessoal. No entanto, o público poderá conhecer mais dele com o lançamento da cinebiografia “Homem com H”, programada para maio de 2025. Nele, Ney é interpretado por Jesuíta Barbosa, em uma produção que promete abordar temas delicados de sua trajetória.

Expectativas em Torno do Lançamento do Filme

O cantor elogia o filme e ressalta: “É um filme muito impactante. Nas duas vezes que fui ver, todo mundo no cinema chorava.” Na exposição do MIS, há uma sala dedicada ao filme, com materiais de pesquisa utilizados na elaboração do roteiro e fotos de bastidores. Matogrosso foi ativo na produção, insistindo que a narrativa deve ser verdadeira: “A única condição que eu coloquei é que não poderiam mentir ao meu respeito.”

Durante sua visita à exposição, Ney fez sugestões para aprimorar a experiência dos visitantes, escolhendo a canção “Yolanda” como tema de abertura e solicitando a inclusão de uma performance de “Pro Dia Nascer Feliz”. Para André Sturm, a mostra celebra a versatilidade de Ney Matogrosso, que conseguiu transcender rótulos e se estabelecer como um artista popular acessível a diferentes culturas e origens.

Com cinco décadas de carreira solo, Ney Matogrosso se consolidou como um artista relevante, que explora temas sensíveis com naturalidade e autenticidade. Ele resume sua jornada afirmando: “São coisas que fazem parte do meu universo.”

Leia a matéria na integra em: www1.folha.uol.com.br

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Menu