Arquitetos Defendem Renovação Urgente para o Centro de Porto Alegre

A Água do Lago Guaíba e a Revitalização Urbana de Porto Alegre

No mês de maio de 2024, o centro de Porto Alegre sofreu com a invasão das águas do Lago Guaíba, resultando em uma interrupção significativa de projetos de construção e urbanismo na região. No entanto, contrastando com essa pausa coletiva, um escritório de arquitetura decidiu seguir em frente com um audacioso plano: erguer um edifício de 95 metros na movimentada Avenida Sete de Setembro, que durante a enchente ficou praticamente submersa, com quase dois metros de água.

Carolina Souza Pinto, arquiteta e diretora de projetos da OSPA Arquitetura & Urbanismo, é uma defensora fervorosa da revitalização do centro histórico da capital gaúcha: “Não podemos abandonar o centro de Porto Alegre. Olhe tudo o que existe e o potencial que ainda pode ser desenvolvido. Agora é o momento de impulsionar isso”, afirma Carolina, destacando a importância de revitalizar a área.

Atualmente, o centro apresenta sinais de recuperação, com fachadas renovadas, mas ainda há resquícios da tragédia provocada pelas enchentes. Marcas de lama e os constantes alagamentos em dias de chuva complicam a já sobrecarregada rede pluvial, que ainda está em processo de reconstrução. Os desafios urbanos impostos pela crise climática e pelas falhas na infraestrutura de proteção contra cheias permanecem visíveis.

Apesar do panorama desafiador, Carolina demonstra otimismo com a revitalização de uma região que há décadas enfrenta questões relacionadas à segurança, transporte e habitação. Ela acredita que a realização de novas obras pode incentivar o poder público a enfrentar os problemas urbanos existentes: “Quanto mais iniciativas e inovações forem introduzidas, mais isso poderá motivar ações do governo para resolver os problemas do contexto urbano. Uma iniciativa puxa a outra”, afirma a arquiteta.

Em fevereiro, a OSPA foi reconhecida pela sua excelência em design ao receber o iF Design Award, uma das premiações mais prestigiosas do mundo, concedida pela instituição alemã iF International Forum Design. O projeto premiado, na categoria de arquitetura residencial, é o condomínio Cap.1 Três Figueiras, situado em um dos bairros mais nobres de Porto Alegre.

Este condomínio é composto por 16 apartamentos distribuídos em quatro blocos, com uma unidade por andar. Cada apartamento é projetado no conceito de casas suspensas, contando com uma estrutura em forma de escada e uma piscina privativa em cada sacada, acompanhada de floreiras. As áreas comuns, como o salão de festas, foram estrategicamente posicionadas na fachada térrea, incorporando divisórias retráteis que se abrem para a rua. Segundo Carolina, essa disposição promove uma maior conexão do edifício com a comunidade local.

Dirigido a um público de alto poder aquisitivo, o novo empreendimento se localiza em uma área de altitude elevada, que por sua vez passou incólume ao caos que atingiu quase 157,7 mil pessoas e 39,4 mil edificações em Porto Alegre no ano anterior. A OSPA agora direciona sua atenção para novos projetos em áreas mais vulneráveis, incluindo um edifício que, ao ser finalizado, terá 32 andares, tornando-se o terceiro mais alto da cidade.

Esse novo projeto, que irá reunir apartamentos e estúdios, contempla ainda um passeio para veículos e pedestres no térreo, ligando duas avenidas e um espaço destinado a operações comerciais e culturais. Carolina destaca que essa iniciativa contribuirá para a vitalidade da região e fomentará uma ativação urbana dentro do espaço privado.

O Edifício Santa Cruz, com 107 metros de altura, e o Edifício Coliseu, que possui 100 metros, estão atualmente entre os prédios mais altos de Porto Alegre, ambos situados no centro histórico e danificados pela enchente. No entanto, ambos podem ser superados por um novo projeto da startup catarinense BeWiki, que busca financiamento para um edifício de 117 metros na região do 4º Distrito, área também propensa a inundações.

Além disso, a equipe da OSPA está envolvida em um projeto de reconstrução na cidade de São Sebastião do Caí, onde comunidades inteiras devem ser realocadas devido a riscos hidrológicos aumentados. A empresa está desenvolvendo o Parque das Bergamotas, um empreendimento habitacional destinado a famílias de baixa renda, que contará com 44 casas modulares, uma escola e um posto da Brigada Militar, com um custo estimado de R$ 10 milhões, que será financiado em parceria com a prefeitura e associações comerciais da região.

Para Lucas Obino, um dos fundadores do grupo OSPA, a empresa se posiciona como um “ecossistema de desenvolvimento urbano”. O escritório é apenas um dos eixos do grupo, que também inclui a fintech Urbe.me, especializada em investimentos imobiliários por meio de crowdfunding, e a plataforma Place, que oferece serviços de mapeamento urbano para construtoras e prefeituras. Esses projetos operam em conjunto com o Instituto Cidades Responsivas, dedicado a estudos e pesquisas no campo do planejamento urbano.

Obino também menciona que a pandemia de Covid-19 intensificou o interesse da população por áreas verdes e espaços mais amplos, tendência que foi amplificada pelas enchentes no estado. As construtoras e incorporadoras já compreenderam essa nova demanda. “O movimento cultural dessa demanda está realçado. Se há cinco anos tínhamos que educar a sociedade e os governos, hoje isso já foi conquistado. O próximo passo é implementar e garantir uma compreensão mais apurada das demandas do mercado, assim como articular políticas públicas eficazes pela gestão urbana”, conclui o arquiteto.

Leia a matéria na integra em: www1.folha.uol.com.br

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