Blocos Afros Buscam Sustentabilidade Além do Carnaval

No último dia 24, lideranças de blocos afros se reuniram no Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, com um objetivo claro: discutir alternativas para garantir a sustentabilidade de suas atividades durante todo o ano, e não apenas no Carnaval. Entre os representantes estavam os blocos Muzenza, Mundo Negro e Bloco da Saudade, que fazem parte da rica tradição cultural da cidade.

A principal fonte de financiamento para esses blocos tem sido o Programa Ouro Negro, uma iniciativa da Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBa), em parceria com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi). Em 2025, o programa completou 16 anos e destinou R$ 15 milhões a cerca de 114 entidades culturais.

O Papel do Advogado Caio Rocha

O advogado Caio Rocha, do escritório Rocha Advogados, se destacou recentemente nesse cenário. Com experiência adquirida ao longo dos últimos cinco carnavais, ele se especializou no processo de licitação do Ouro Negro, abrangendo desde a elaboração de projetos até a prestação de contas. Em 2025, Caio foi responsável pela aprovação de 25 propostas, o que representa mais de 25% do total.

“Existem muitas oportunidades de financiamento além do Ouro Negro. Temos a Rouanet, Rouanet Jovem, editais do Banco do Brasil, da Caixa, da Embratur, além da PNAB, que garante apoio mensal de R$ 10 mil para instituições carnavalescas. A intenção é proporcionar que esses blocos culturais consigam desenvolver seus projetos ao longo do ano”, destaca Caio.

A Visão de Roberto dos Santos

Roberto dos Santos, presidente do bloco Mundo Negro, falou sobre a importância do Ouro Negro para a continuidade dos blocos culturais. “Se não fosse o Ouro Negro, os blocos já teriam acabado. Nós enfrentamos uma dura concorrência e perdemos foliões para grandes atrações como Chiclete e Ivete. O Carnaval de 2025 foi positivo, conseguimos recursos, mas ainda é um desafio”, compartilha.

Dificuldades e Avanços no Carnaval

Caio Rocha comenta que, apesar dos avanços, ainda persiste desafios significativos, como os atrasos nos trios e disparidades nos prêmios. “Precisamos discutir como projetar para que esses blocos consigam desfilar em horários de maior visibilidade, mostrando sua cultura ao público”, enfatiza.

Ele também articula com a Secult e o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) propostas para ampliar o apoio aos blocos. “Estamos organizando a volta de um prêmio para os blocos culturais da Bahia, com a ideia de fomentar cada vez mais essa parte essencial da nossa cultura”, afirma Rocha.

Atrasos no Repasse de Recursos

A demora na liberação de recursos foi uma preocupação expressa por diversos representantes. Vagner Peruna, diretor financeiro do bloco Mundo Negro, relatou: “Recebemos apenas 70% do valor total, e o restante chega na véspera do evento. Isso dificulta a organização e qualidade das apresentações, já que precisamos encontrar fornecedores que aceitem receber de forma fragmentada.”

A Importância da Visibilidade e Ações Sociais

Os blocos afros desempenham um papel social fundamental em suas comunidades, promovendo ações que preservam a ancestralidade e oferecem formações para os jovens. Natinho Passos, presidente do Bloco Samba Popular, afirma: “Queremos cursos de capacitação duradouros que realmente ajudem na inserção de jovens no mercado de trabalho.”

Gestão e Autonomia Financeira

Jorge Santos, presidente do Bloco Afro Muzenza do Reggae, ressalta a urgência de mais apoio financeiro para os blocos. “Essas instituições culturais são essenciais para a manutenção da nossa identidade e precisam de mais respeito e recursos, tanto de empresas privadas quanto do poder público”, alerta.

Segundo Jorge, a gestão de um bloco cultural ultrapassa os desafios financeiros comuns. “É necessário ter conhecimento sobre empreendedorismo cultural para garantir a continuidade dessas instituições, mesmo diante de adversidades financeiras”, conclui.