Desafios Contínuos na Administração das Vacinas contra a Covid-19: O que Estamos Aprendendo?

A Vacinação Contra a Covid-19: Desafios e Necessidades Atualizadas

Após cinco anos desde o início da pandemia, a Covid-19 se tornou uma doença controlada, principalmente graças à ampla vacinação da população. Entretanto, a realidade ainda não é de risco zero: o vírus continua em circulação e suas consequências são sérias. Em 2022, 5.960 vidas foram perdidas no Brasil em decorrência da doença. Com a estabilização da situação atual, é crucial que não haja espaço para descuidos que possam elevar os riscos. Manter a vacinação da população, especialmente entre os grupos mais vulneráveis — como idosos, gestantes, crianças e pessoas imunossuprimidas — é fundamental.

O Ministério da Saúde é o órgão encarregado de adquirir e distribuir vacinas, e tem a responsabilidade de disponibilizar versões atualizadas para as novas cepas do vírus, que está constantemente se alterando. No entanto, essa atualização não está sendo feita de forma adequada.

Vacina Atualizada para Adultos: Uma Necessidade Ignorada

Atualmente, apenas a vacina pediátrica contra a Covid-19 está em conformidade com as atualizações necessárias. As vacinas disponíveis nas unidades de saúde para adultos são projetadas para combater a cepa XBB.1.5 da variante ômicron e não recolectam a cepa JN.1, que, desde abril, foi reconhecida como a principal ameaça. Essa falta de atualização é crítica, pois o vírus continua a sofrer mutações, que podem driblar a proteção conferida pelas vacinas. Assim, enquanto é sempre preferível receber qualquer vacina do que não receber nada, a versão em circulação atualmente não oferece a melhor proteção para aqueles que estão mais expostos.

O governo federal parece estar desatento a essa questão. Em um esforço para oferecer vacinas atualizadas, o Ministério da Saúde fez uma série de escolhas questionáveis. No final do ano passado, um contrato foi firmado com a Zalika Farmacêutica para a aquisição de doses da vacina indiana Covovax, com promessas de entrega de uma versão atualizada. Contudo, essa vacina para a cepa JN.1 não obteve autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil. A farmacêutica submeteu um pedido de autorização, mas o mesmo foi indeferido no início deste ano, com a alegação de que os documentos apresentados não garantiam os padrões de qualidade necessários até o fim do prazo de validade.

Erros de Gestão na Aquisição de Vacinas

Os erros não param por aí. No ano passado, o Ministério da Saúde recusou um lote de 3 milhões de doses da vacina da Moderna, que já estavam atualizadas para a cepa JN.1, alegando problemas com prazos de validade. Embora a declaração fosse verdadeira, a aprovação da Anvisa para essa versão veio logo depois, evidenciando a falta de comunicação entre as instituições responsáveis. Somente agora, um ano depois, o ministério divulga que as doses recusadas já estão em processo de distribuição. A necessidade de um caminho mais ágil para a aprovação de vacinas atualizadas é evidente, especialmente quando comparada a outros países que adotam tais medidas com mais eficácia.

A Crítica ao Processo e a Proteção Necessária

O governo defende que a vacina da Zalika “protege contra formas graves da doença e hospitalizações, mesmo diante de novas variantes do vírus”. Entretanto, a lógica de investir em vacinas desatualizadas se revela prejudicial. Se novas doses serão adquiridas, é imprescindível que sejam escolhidos produtos que estejam devidamente autorizados pela Anvisa para combater as cepas mais recentes. O foco deve ser na proteção real da população.

Os erros de gestão e planejamento relativos à vacinação não dão sinais de que serão sanados em breve. O desabastecimento contínuo de vacinas é um retrato da falta de organização, criando um dilema para os cidadãos entre optar por não se vacinar ou aceitar uma vacina desatualizada. É crucial que a administração pública aprenda com seus erros passados e busque soluções efetivas para um problema que ainda afeta a saúde de milhões.

Leia a matéria na integra em: oglobo.globo.com

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