O Fascinante Mundo do Panda Gigante e sua Dieta de Bambu
Um enigma fascinante para os pesquisadores é entender como o panda-gigante (Ailuropoda melanoleuca), um animal carnívoro, se sustenta exclusivamente de bambu — uma planta rica em fibras que apresenta desafios para a digestão em não herbívoros. A busca por respostas a essa questão levou a diversas investigações, que analisaram desde a anatomia do crânio até a microbiota intestinal desses ursos.
Novas Descobertas em Pesquisa Recente
Recentemente, uma pesquisa inovadora aponta para uma adaptação entre reinos, evidenciando que proteínas presentes no bambu desempenham um papel crucial na regulação de genes relacionados a funções fisiológicas que facilitam seu consumo pelos pandas. O estudo, conduzido por cientistas da Universidade do Oeste da China e do Centro Chinês de Pesquisa e Conservação de Pandas Gigantes, foi publicado no dia 28 de setembro no periódico científico Frontiers in Veterinary Science.
Metodologia da Pesquisa
Durante a pesquisa, os cientistas coletaram amostras de sangue de pandas machos e fêmeas adultas, além de fêmeas jovens, que habitam um centro de conservação em Chengdu, na China, entre maio e junho de 2022. Em seguida, utilizaram a técnica de sequenciamento de RNA para analisar três partes do bambu mais consumidas por esses animais: brotos, raízes e folhas.
A comparação realizada entre as amostras de sangue dos pandas e as sequências das plantas revelou a presença de 57 microRNAs (miRNAs) derivados do bambu no organismo dos pandas. Esses fragmentos de RNA são transportados na corrente sanguínea através de exossomos, pequenas vesículas que facilitam a comunicação celular.
Funções dos microRNAs no Organismo
A pesquisa identificou diversas funções dos miRNAs da planta no organismo dos pandas, que se mostram essenciais para sua adaptação a uma dieta rica em bambu. Entre os efeitos observados, destacam-se o aumento da capacidade de detecção de sabores amargos, a melhoria na digestão do bambu resistente e a interação com o sistema dopaminérgico, que influencia as sensações de prazer no cérebro.
Feng Li, pesquisador da Universidade do Oeste da China e autor sênior do estudo, comenta sobre a relevância das descobertas: “O que é inovador nesse estudo é como a dieta pode ‘dialogar’ diretamente com os genes de um animal, apresentando um exemplo excepcional de como as plantas moldam a biologia animal.”
Implicações para a Segurança Alimentar dos Pandas
Os pesquisadores notaram que alguns miRNAs têm impacto direto em genes relacionados ao paladar e ao olfato. Essa adaptação permite que os pandas façam escolhas alimentares mais seguras, identificando toxinas presentes no bambu. “Os miRNAs no bambu regulam a expressão do gene TAS2R3, que é responsável pela sensibilidade ao sabor amargo. Isso torna os pandas-gigantes mais aptos a reconhecer perigos em sua dieta”, explica Li.
Além disso, os miRNAs também influenciam o metabolismo da dopamina, um neurotransmissor crucial nos processos de seleção alimentar, resultando em uma metabolização mais lenta e controle aprimorado sobre as preferências alimentares dos pandas.
Perspectivas Futuras da Pesquisa
Os dados obtidos também revelaram que certos miRNAs estão presentes exclusivamente no sangue de machos adultos ou fêmeas jovens, sugerindo possíveis diferenças na atuação desses fragmentos em relação ao sexo ou à fase reprodutiva. Os autores do estudo propõem que, com base na teoria da regulação entre reinos, esses miRNAs vegetais podem ter sido decisivos na transição do panda gigante de uma dieta carnívora para a herbívora, com foco exclusivo no bambu.
De acordo com Li, as descobertas possuem implicações que vão além da conservação dos pandas. “Estamos explorando novas áreas que podem incluir a manipulação de miRNAs na alimentação animal para promover saúde, crescimento e produtividade”, ressalta.
Além do potencial para a saúde animal, as investigações também abrem portas para pesquisas na saúde humana, biotecnologia, imunologia e na adaptação de miRNAs para terapias gênicas, como no tratamento do câncer.
Próximos Passos no Estudo
Os pesquisadores estão determinados a aprofundar o entendimento sobre as relações entre miRNAs e seus genes-alvo. Os próximos estágios envolverão investigações sobre os efeitos de longo prazo dessa regulação genética e a influência de fatores ambientais no comportamento alimentar dos pandas.
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