A Epidemia de Dengue no Brasil: Desafios e a Necessidade de Vacinação

De acordo com dados atualizados do Ministério da Saúde, até a última segunda-feira (10), o Brasil distribuiu 6,5 milhões de vacinas contra a dengue desde janeiro de 2024. Porém, apenas 3,3 milhões dessas doses foram efetivamente aplicadas — sendo 2.372.724 primeira dose e 955.106 segunda dose.

Um Ano Crítico para a Saúde Pública

O ano de 2024 já é considerado o mais letal em relação à dengue no Brasil, com 6.199 óbitos e mais de 6,6 milhões de casos prováveis. Esses números superam os de anos anteriores que já eram considerados críticos, como 2015, que registrou 1,68 milhão de casos e 986 mortes, e 2023, com 1,64 milhão de casos e 1.179 óbitos.

“É um balanço ruim. O grande complicador é o baixo volume da vacina em relação à população. É mais difícil fazer campanhas muito localizadas do tipo ‘vai ser só para essa faixa etária’, embora todos saibam que precisam se vacinar”, afirma Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa.

Fatores que Influenciam a Vacinação

Para Vecina, a baixa adesão às vacinas pode ser atribuída a um chamado deficitário do Ministério da Saúde, que atualmente está sob a liderança de Nísia Trindade. Ele destaca que problemas locais na infraestrutura de vacinação também contribuem para esse cenário. A falta de uma comunicação eficaz para o público-alvo tem gerado um distanciamento entre os serviços de saúde e a população, especialmente entre jovens em transição da infância para a adolescência.

“É uma população que, normalmente, não está vinculada a um serviço de saúde, porque não está mais no pediatra, mas ainda não tem um médico especialista acompanhando”, complementa Alberto Chebabo, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Segundo Chebabo, a faixa etária definida como prioritária para a vacinação apresenta desafios específicos, e o Ministério da Saúde, em uma nota técnica divulgada em março de 2024, recomendou a suspensão de vacinação extramuros até que mais informações estejam disponíveis.

Desafios do Aedes Aegypti

Os especialistas alertam que fatores climáticos têm desempenhado um papel crucial na disseminação da dengue desde os anos 2010. Chebabo aponta que as mudanças climáticas estão transformando áreas antes inadequadas para a reprodução do mosquito Aedes Aegypti em locais propícios à sua proliferação. Além disso, a falta de saneamento básico e a desorganização urbana favorecem o surgimento do inseto.

“Estamos vendo um aumento da área de atuação do Aedes na Argentina, sul dos Estados Unidos e sul da Europa”, destaca Chebabo. “Aqui no Brasil, a desestruturação das cidades, aliada à falta de coleta adequada de lixo, favorece a aparição do mosquito”, acrescenta.

Crescimento Desordenado e suas Consequências

Vecina também ressalta que o crescimento desordenado das cidades e o aumento das temperaturas são elementos fundamentais para a reurbanização do Aedes Aegypti. A mudança climática tem propiciado melhores condições para a reprodução do mosquito. Em 2024, o Brasil registrou um aumento significativo no número de casos, quatro vezes mais do que em 2023.

De acordo com a série histórica do Ministério da Saúde, a Região Sudeste concentra o maior número de casos de dengue. Até a primeira década dos anos 2000, o Nordeste era a segunda região em casos e a primeira em óbitos. No entanto, após uma explosão de casos na década de 2010, o Centro-Oeste passou a registrar um crescimento exponencial, e, a partir de 2020, a Região Sul viu um aumento drástico dos casos, alcançando 1,2 milhão em 2024, apenas atrás do Sudeste.

A Situação Atual e as Ações Futuras

No ano corrente, até o momento, foram registrados 269.919 casos prováveis de dengue e 85 óbitos confirmados, com outros 303 sob investigação. O aumento dos casos de dengue configura um grande desafio para a saúde pública brasileira, exigindo esforços coordenados entre o governo e a população para combater a proliferação da doença e garantir que mais pessoas sejam vacinadas.

O Ministério da Saúde foi contatado em busca de um pronunciamento oficial e aguarda-se um posicionamento por um porta-voz. Atualizações poderão ser divulgadas conforme novas informações se tornem disponíveis.

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