A Revolução das Proteínas: Novas Tendências Alimentares nos Supermercados
Nos corredores de “snacks” dos supermercados, uma nova configuração vem se formando. Além dos tradicionais salgadinhos, prateleiras estão sendo preenchidas com opções como grão-de-bico torrado, pedaços de queijo e carne seca. Esse cenário reflete a crescente demanda por alternativas alimentares ricas em proteínas, que estão surgindo junto de opções com baixo teor de gordura e açúcar. Na seção de laticínios, produtos com nomes pouco familiares, como skyr e kefir, têm ganhado destaque.
As dietas ricas em proteínas tornaram-se uma verdadeira tendência. Nas redes sociais, influenciadores de alimentação e fitness têm promovido o aumento do consumo proteico. Essa nova moda é impulsionada por uma mudança de paradigma: celebridades e personalidades têm mostrado que a força física se tornou o novo ideal, superando a antiga obsessão por um corpo magro.
Recentemente, as buscas por “dietas ricas em proteínas” atingiram um pico em janeiro. Um estudo da Hartman Group apontou que cerca de 64% dos americanos estão interessados em aumentar a ingestão de proteínas, eclipsando antigos favoritos como fibras e grãos integrais.
Na Grã-Bretanha, a Ocado, uma rede de supermercados online, revelou que mais de 40% dos consumidores aumentaram sua ingestão de proteínas no último ano. Mas o que justifica esse apetite voraz?
A busca por proteínas não é nova entre os frequentadores de academias; no entanto, esse interesse se expandiu e agora abrange um público mais amplo, que busca os benefícios das proteínas para construir músculos e manter a saciedade por mais tempo.
Dados da Kantar indicam que os gastos dos britânicos com produtos de nutrição esportiva, como barras de proteína e pós, atingiram £143 milhões (mais de R$ 1 bilhão) em apenas um ano, quase dobrando em relação ao mesmo período de três anos atrás.
De acordo com Juergen Esser, da Danone, a demanda por proteínas começou entre jovens que almejam um corpo musculoso mas se espalhou para um público mais amplo, incluindo pessoas mais velhas em busca de saúde e longevidade.
A pandemia também desempenhou um papel significativo nessa transformação, levando as pessoas a priorizarem sua saúde. Além disso, o interesse por medicamentos como os glp-1, que ajudam na supressão do apetite, está crescendo. Um estudo da empresa de dados Numerator revelou que mais de 8% dos americanos estão utilizando esses medicamentos. À medida que esses usuários tendem a perder músculos junto com a gordura, muitos estão buscando fontes de proteína para tonificarem seus corpos.
Uma pesquisa da Universidade de Cornell mostrou que ao se afastar de alimentos processados, os gastos com mantimentos caem em média 5,5% quando um membro da família começa a usar medicamentos glp-1.
As opções de snacks ricos em proteínas foram além dos shakes destinados aos frequentadores de academia, que costumavam ter embalagens hiper-masculinas e nomes de marcas como Barebells e Grenade. Agora, empresas estão inovando e lançando uma gama mais variada de produtos.
A Nestlé, por exemplo, introduziu pizzas e massas congeladas com altos níveis de proteína, enquanto a Conagra Brands lançou refeições prontas que se apresentam como “amigáveis ao glp-1”. Até a gigante do chocolate Mars está comercializando versões ricas em proteínas de suas famosas barras de chocolate.
Esse aumento de produtos proteicos reflete um crescimento nas finanças das empresas. Em 2024, a Danone reportou um aumento de 4,3% em suas receitas, impulsionadas por iogurtes e bebidas proteicas. Suas vendas nessa categoria saltaram para €1 bilhão (R$ 7 bilhões), um crescimento significativo comparado aos €400 milhões (R$ 3 bilhões) em 2021.
No entanto, a pergunta sobre até onde essa tendência pode ir ainda é pertinente. Todos precisam de proteínas para o funcionamento adequado do corpo, mas o consenso sobre a quantidade ideal é nebuloso. A Organização Mundial da Saúde recomenda 0,83 gramas de proteína por quilograma de peso corporal ao dia, sugerindo que a média nos EUA e no Reino Unido pode estar acima do necessário.
O desafio para as empresas alimentícias é atender a essa demanda emergente. Os consumidores não buscam apenas mais proteína e menos alimentos ultraprocessados; eles também querem opções à base de plantas e produtos que favoreçam a saúde intestinal.
A Danone, por exemplo, está desenvolvendo laticínios “híbridos”, que combinam proteínas de origem animal com vegetais, uma fórmula que pode ser mais fácil de digerir e menos impactante para o meio ambiente. Já a Biotiful Gut Health, conhecida pela produção de kefir, está focando em itens ricos em proteínas que utilizam ingredientes naturais. Outro exemplo é a The Curators, uma fabricante britânica de snacks, que decidiu por um equilíbrio ao criar chips de soja e lentilha com dez gramas de proteína por pacote. O sabor certamente permanece como um dos fatores mais importantes para a aceitação do consumidor.
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