Farmácias enfrentam escassez de Ozempic devido ao aumento da violência e assaltos

O Crescente Índice de Roubos de Medicamentos para Perda de Peso em São Paulo

Na noite de uma sexta-feira no fim de janeiro, David Fernando, um farmacêutico em São Paulo, vivenciou uma situação alarmante ao trabalhar em uma drogaria. Um homem armado se aproximou, exigindo não apenas dinheiro do caixa, mas também os medicamentos da geladeira. Para Fernando, essa frase não era estranha; os criminosos estão em busca de produtos como Ozempic, Wegovy e Saxenda, fármacos injetáveis que têm ganhado a atenção dos brasileiros preocupados com a perda de peso, mas que muitos consideram inacessíveis.

O assaltante levou cinco caixas desses medicamentos, que têm um custo de R$ 700 a R$ 1.100 cada. Em contraste, a renda média mensal no Brasil, segundo o IBGE, foi de R$ 3.225 em 2024. O incidente foi apenas mais um em uma série de assaltos que a drogaria enfrentou, levando a administração a contratar um guarda de segurança para manter vigilância no local.

Medidas de Segurança Aumentadas

A apenas quatro quadras da drogaria de Fernando, outra farmácia também se viu forçada a intensificar suas medidas de segurança após um assalto interrompido por um policial, resultando em um tiroteio que feriu uma idosa. Agora, a vigilância é feita por dois seguranças armados, um na entrada e outro próximo a um quarto onde os medicamentos para perda de peso são armazenados.

Rumores de roubos de Ozempic têm se espalhado pelo mundo, com relatos de assaltos em locais como o estado de Michigan, nos EUA, e em Santiago de Compostela, na Espanha. Contudo, o Brasil emergiu como um ponto crítico para esses crimes, especialmente em São Paulo, a cidade mais rica do país, onde há uma demanda crescente por esses medicamentos. A localização privilegiada de farmácias em bairros abastados torna o roubo desses fármacos uma tentativa atrativa para os criminosos.

O Medo que Se Torna Cotidiano

Os frequentes assaltos têm causado um clima de medo entre os trabalhadores das farmácias. Algumas lojas já optaram por reduzir os estoques dos medicamentos para perda de peso em resposta a essa onda de criminalidade. Segundo Pedro Ivo Corrêa dos Santos, delegado do Departamento de Investigações Criminais de São Paulo, as drogarias estão se tornando alvos fáceis, muitas vezes funcionando 24 horas sem segurança adequada para proteger os produtos.

Análises recentes indicam que os assaltos a farmácias em que produtos como Ozempic são visados aumentaram consideravelmente nos últimos anos. De um único roubo registrado em 2022, o número saltou para 39 casos em 2024, refletindo uma tendência alarmante.

Desafios e Restrições da Indústria

A situação é ainda mais complicada pela subnotificação de ocorrências. Algumas farmácias, por precaução, optaram por não estocar medicamentos como Ozempic. Wilson Martins, gerente da Farma o Imperador, uma drogaria independente, comentou sobre como a abordagem mudou: “Quando as pessoas perguntam sobre Ozempic, respondemos que não temos, e assim evitamos ser roubados.”

Com a nova estratégia, muitos clientes precisam fazer encomendas para retirar os medicamentos, e a segurança é uma prioridade. Martins descreve um cenário precário, onde, por segurança, mantém um facão atrás do balcão.

Além de roubos em farmácias, gangues também têm focado em caminhões de entrega que transportam medicamentos. Recentemente, um grupo foi desmantelado pela polícia, incluindo funcionários de uma empresa de transporte que estavam colaborando com os criminosos.

A Luta Contra o Tempo e os Preços

Os números da Anvisa mostram um aumento alarmante no roubo de injeções de Ozempic, passando de 4.770 em 2023 para 8.220 em 2024. Isso ocorre em um contexto onde as vendas desses produtos só aumentam, impulsionadas pela obsessão cultural por corporações esculpidas — um desejo que contrasta com o aumento das taxas de obesidade, que alcançaram cerca de 24% da população adulta em 2023, comparado a quase 12% em 2006.

A popularidade de medicamentos como Ozempic foi amplamente divulgada por celebridades brasileiras, trazendo à tona discussões em redes sociais. Essa visibilidade ajudou a impulsionar a demanda, mas também instigou a criminalidade relacionada ao seu roubo.

É evidente que, enquanto a luta contra os assaltos a farmácias avança, a maior ameaça pode vir, paradoxalmente, do mercado. Os preços exorbitantes dos medicamentos têm atraído grupos especializados que garantem um retorno financeiro considerável com esses roubos. Contudo, à medida que as patentes se aproximam do vencimento, pode haver uma transformação significativa no acesso e na distribuição desses produtos no mercado brasileiro.

No entanto, até que essa mudança ocorra, farmacêuticos e proprietários de drogarias permanecem em um estado constante de alerta, esperando que suas práticas de segurança e proteção sejam eficazes contra essa nova forma de criminalidade.

Leia a matéria na integra em: www1.folha.uol.com.br

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