Densidade e Desafios nas Favelas de São Paulo: Uma Realidade Complexa
A capital paulista abriga cerca de 1,7 milhão de pessoas nas favelas, o que representa 15% da sua população total. Apesar de ocuparem apenas 4% da área da cidade, essas regiões apresentam uma densidade demográfica impressionante: 35 mil habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com uma análise da Folha, baseada nos microdados do Censo de 2022. Em contraste, a média no restante do município é de apenas 6.600 pessoas por quilômetro quadrado.
No Rio de Janeiro, que abriga a Rocinha, a favela mais populosa do Brasil, a densidade média é menor, atingindo 25 mil habitantes por km².
Comparativo de Densidade Entre Favelas
A densidade varia significativamente entre diferentes favelas em São Paulo. Paraisópolis, uma das mais conhecidas e populosas, apresenta uma densidade de 71,1 mil hab/km², enquanto locais como Castelinho chegam a impressionantes 145 mil hab/km². Em comparação, o distrito da República, sem contar as favelas, possui 26,2 mil habitantes por km².
A favela do Moinho, localizada no centro da cidade, apresenta uma densidade intermediária de 53,7 mil hab/km². O governo estadual já propôs um plano para a realocação dos moradores desse local.
Relato de Moradora
Beatriz Miranda Vaz, 22 anos, é uma das vozes que contam a história da vida nas favelas. Nascida e criada em Paraisópolis, ela relata que seu sobrado foi dividido para abrigar sua mãe, irmã, cunhado e sobrinho. Apesar de contarem com alguma infraestrutura de saneamento, a realidade cotidiana é marcada por desafios.
“Muitas vezes, temos problemas com o esgoto, que volta e vaza”, explica Beatriz sobre as dificuldades enfrentadas nas conexões improvisadas. “Quando o vizinho fecha o registro para fazer reparos, a nossa água também é cortada”, complementa.
Dados sobre Saneamento
Um estudo do IBGE aponta que as denominações “favelas” e “comunidades urbanas” englobam vários tipos de assentamentos, cada um apresentando desafios específicos. Analisando os dados do Censo de 2022, um dos principais obstáculos enfrentados nas favelas paulistanas é a falta de um sistema de esgoto adequado. Enquanto a cobertura de abastecimento de água e coleta de lixo chega quase a 100%, o esgotamento sanitário apresenta um déficit considerável.
Apenas 81% das favelas têm acesso a redes de esgoto adequadas. Os 19% restantes correspondem a 263 favelas, que abrigam 386 mil pessoas, número que supera a população de Barueri. Em algumas áreas, os resíduos são direcionados para rios ou lagos, como ocorre em 14% das favelas.
A pesquisadora Luciana Ferrara, do Centro de Estudos da Favela, nota que, apesar de avanços no saneamento, o sistema de esgoto não avançou na mesma velocidade do abastecimento de água. Ela atribui essa discrepância a cortes de recursos federais destinados à urbanização de favelas desde 2014.
Situação do Abastecimento de Água
Atualmente, 97% das residências nas favelas têm alguma forma de conexão com a rede de distribuição da Sabesp. Entretanto, cinco favelas ainda enfrentam a falta de acesso à água potável.
“A infraestrutura pública é fundamental, mas não garante um acesso pleno de qualidade”, afirma Ferrara, ressaltando que muitos moradores ainda recorrem a soluções improvisadas devido a problemas de pressão na rede ou à incapacidade de arcar com tarifas.
Acesso a Banheiros
Uma análise sobre a presença de banheiros revela que, em 70% das favelas, todas as casas têm banheiro de uso exclusivo. No restante das áreas, a maioria dos moradores utiliza banheiros compartilhados. Entretanto, há 103 favelas sem qualquer acesso a sanitários, afetando diretamente a vida de 353 pessoas.
Demografia das Favelas
Quanto à demografia, as mulheres representam 51% da população das favelas. Em 80% dessas áreas, elas são a maioria. A população parda predominante nas favelas de São Paulo chega a mais de 52%, enquanto os brancos e pretos representam 33% e 14%, respectivamente.
A faixa etária mais comum nas favelas é a de 20 a 24 anos, representando 39%93%, embora haja exceções significativas, como o Conjunto Parque Novo Mundo, onde 20% da população é analfabeta.
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