Grupo de Apoio Inovador Auxilia Idosos na Superação da Dependência de Benzodiazepínicos

Desmistificando o uso de benzodiazepínicos: o desmame em idosos no Jabaquara

Na zona sul de São Paulo, em um posto médico localizado no Jabaquara, a equipe de saúde começou a observar uma preocupação crescente entre os pacientes idosos: muitos deles relataram o uso prolongado de ansiolíticos e pouco compreendiam as sequelas desse consumo. Embora muitos estivessem sob doses cada vez maiores, a eficácia dos medicamentos parecia ter diminuído.

Atualmente, 30 desses pacientes participam de um grupo de desmame de benzodiazepínicos na Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Lourdes. Este grupo foi criado em julho de 2024, com o objetivo de ajudar os idosos a interromper o uso dos medicamentos de forma segura.

O processo de desmame

O desmame, também conhecido como descontinuação, é um processo gradual e controlado para interromper a utilização de medicamentos. Essa prática envolve a redução lenta das doses e pode incluir a introdução de terapias alternativas para lidar com potenciais efeitos de abstinência, como aumentando a ansiedade, irritação, insônia, tremores e tonturas.

Os encontros semanais na UBS Jardim Lourdes oferecem tratamentos que vão além da simples redução de medicações. Os participantes têm acesso a acupuntura, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, além de orientações sobre diversas patologias. O ambiente também incentiva o convívio social, essencial para a saúde mental.

Benzodiazepínicos e seus efeitos

Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos que atuam no sistema nervoso central, afetando os receptores de GABA, substância que já está presente no organismo. Essa medicação é geralmente usada para combater a ansiedade, melhorar o sono, e até prevenir convulsões em pacientes epilépticos.

Embora esses medicamentos proporcionem um efeito sedativo que pode ajudar no processo de reorganização cerebral, muitas instituições de saúde já sinalizam, há bastante tempo, os riscos associados à dependência e à síndrome de abstinência que podem emergir com o uso prolongado.

Particularmente entre os idosos, o uso contínuo de benzodiazepínicos está associado ao aumento do risco de quedas, dificultando assim o tratamento de doenças crônicas frequentemente encontradas na terceira idade.

Gislaine Blota, farmacêutica e idealizadora do projeto, destaca a importância de monitorar uma população cada vez mais vulnerável, que cresce significativamente em comparação com os jovens. O estudo mostra que a maioria dos atendidos na UBS não tinha conhecimento sobre a possibilidade de reduzir ou até descontinuar suas medicações.

Depoimentos de pacientes

A aposentada Hilda Gomes, de 88 anos, acreditava que sua insônia era parte de sua natureza, desde a infância, quando vivia em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois de usar clonazepam por mais de 20 anos, o luto pela morte do marido agravou sua condição, levando-a a ter tonturas e quedas em casa.

Após quatro meses de acompanhamento, Hilda está reduzindo a medicação com a ajuda de fitoterápicos. “Sinto que estou melhor”, afirma, enquanto outros participantes compartilham experiências semelhantes.

A pesquisa recente da Unifesp revelou que 14,7% dos adultos no Brasil já utilizaram benzodiazepínicos alguma vez, um índice que subiu em relação a 2012. Especialistas como Paulo Amarante, psiquiatra da Fiocruz, ressaltam que esses medicamentos são valiosos, mas frequentemente são prescritos sem a supervisão necessária.

Alternativas e novos caminhos

Amarante alerta para a “supermedicalização” e sugere que o uso de benzodiazepínicos deve ser por períodos limitados. Em vez disso, recomenda métodos alternativos de desmame, como psicanálise, acupuntura e participação em grupos sociais, que podem oferecer suporte emocional e psicológico.

Depoimentos como o do eletricista aposentado Benito dos Santos, de 68 anos, que conseguiu reduzir o uso de benzodiazepínicos com acupuntura, e a aposentada Angélica dos Santos, de 68 anos, que encontrou alívio ao substituir medicamentos por tratamentos naturais, refletem a importância dessa abordagem.

A psicóloga Greicy Duarte, que faz parte da equipe da UBS, enfatiza a necessidade de fortalecer o enfrentamento das dificuldades emocionais. “Sentir é uma reação humana”, diz, ressaltando a importância de lidar com emoções de forma saudável e consciente.

Sensibilizar a população sobre as consequências do uso prolongado de medicamentos e promover alternativas terapêuticas é uma luta em andamento nas UBS de São Paulo, apresentando esperança para aqueles que buscam restabelecer seu bem-estar.

Leia a matéria na integra em: www1.folha.uol.com.br

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