O impacto do aumento dos preços dos alimentos na adoção de dietas saudáveis entre as comunidades vulneráveis

Custo de Alimentos Saudáveis: Desafios para a População Vulnerável


Tese da Medicina da UFMG alerta sobre os altos custos de dietas saudáveis e seu impacto nas populações mais vulneráveis, exacerbado pelas mudanças climáticas.


Custo dos alimentos saudáveis restringe dieta da população vulnerável
UFMG: Custo dos alimentos restringe consumo de dietas saudáveis pela população mais vulnerável | Foto: Arquivo da Faculdade de Medicina da UFMG

A acessibilidade a uma alimentação saudável tem se mostrado cada vez mais difícil, especialmente para as populações em situação de vulnerabilidade econômica. De acordo com uma pesquisa recente, o aumento dos preços dos alimentos é exacerbado por fatores como as mudanças climáticas, que impactam diretamente a produção e a distribuição.

A pesquisadora Thaís Cristina Marquezine Caldeira, autora de uma tese no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da UFMG, explica que eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, têm consequências diretas na oferta de alimentos. “Essas condições resultam em dificuldades na produção e na distribuição, fazendo com que os preços subam”, afirma.

A pesquisa da autora utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/18, realizada pelo IBGE. Essa pesquisa fornece informações relevantes sobre consumo, gastos e renda das famílias brasileiras. O estudo analisou dietas baseadas no consumo atual da população, bem como recomendações de guias alimentares, destacando que os alimentos ultraprocessados e ricos em amido dominam a dieta atual, representando 70% das calorias consumidas.

Um ponto crítico destacado é que famílias de baixa renda enfrentam barreiras financeiras significativas ao tentar adotar dietas mais saudáveis, como as recomendadas pela Comissão EAT-Lancet. O aumento dos preços de alimentos frescos e minimamente processados tem contribuído para uma maior dependência de produtos ultraprocessados.

Os resultados indicam que o custo médio da dieta variou entre R$0,60/100 kcal em áreas de menor renda e R$0,70/100 kcal nas de maior renda. Regiões também apresentaram diferenças de custo, com o Nordeste sendo a mais barata, e as áreas urbanas apresentando preços superiores às rurais.

Insegurança Alimentar e Acesso a Dietas Saudáveis

Dietas saudáveis e sustentáveis, que devem ser acessíveis a todos, são fundamentais para a saúde humana e ambiental. Elas promovem o consumo de frutas, hortaliças e grãos, enquanto minimizam o consumo de alimentos ultraprocessados. Entretanto, dados da FAO revelam que, em 2022, 2,83 bilhões de pessoas encontraram dificuldades para arcar com uma dieta saudável devido ao aumento de preços globalmente.

A alta dos preços não afeta apenas famílias em situação de pobreza. Com a ascensão do custo dos alimentos frescos, muitas pessoas em diversas classes sociais têm suas opções de alimentação restritas. Thaís Caldeira observa que as dietas menos custosas tendem a incluir menos opções saudáveis, o que acaba contribuindo para hábitos alimentares prejudiciais.

Impacto Ambiental da Produção de Alimentos

A produção de alimentos já é responsável por até 35% das emissões globais de gases de efeito estufa. A pesquisa destaca que padrões alimentares que priorizam ultraprocessados e proteínas animais aumentam esse impacto negativo. A fabricação de alimentos industriais consome grandes quantidades de energia e recursos naturais, frequentemente implicando em desmatamento e perda de biodiversidade.

A pecuária, uma das maiores fontes de gases de efeito estufa, também exige grandes áreas de terra, o que frequentemente resulta em degradação ambiental. Segundo a pesquisadora, essa combinação de fatores representa um grande desafio para a sustentabilidade alimentar.

Desafios do Consumo de Alimentos Ultraprocessados

Apesar dos benefícios associados ao consumo regular de plantas e grãos, a preferência por alimentos ultraprocessados tem crescido. Essas opções alimentares, quando consumidas em excesso, não apenas elevam o risco de obesidade, mas também podem contribuir para doenças crônicas como diabetes e certos tipos de câncer.

Os produtos ultraprocessados se caracterizam por serem calóricos e pobres em nutrientes, levando a um consumo sem necessidade nutricional efetiva. Thaís Caldeira alerta que a saciedade promovida por esses alimentos é rápida e momentânea.

Políticas Públicas e Sustentabilidade Alimentar

Para promover sistemas alimentares que respeitem a saúde e a sustentabilidade, a implementação de políticas públicas se torna urgente. Caldeira defende a rotulagem obrigatória de alimentos processados e sugere a criação de incentivos fiscais para alimentos saudáveis, além da taxação de produtos não saudáveis.

Segundo a pesquisadora, é essencial que o poder público tome a iniciativa de tornar os alimentos saudáveis mais acessíveis, especialmente frutas e hortaliças, que têm se tornado cada vez mais onerosas para a população.

Leia a matéria na integra em: grafittinews.com.br

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Menu