História de superação: A poesia como refúgio de Luana do Amor Divino
A experiência de internação no CASE – Centro de Atendimento Socioeducativo de Luziânia/GO inspirou a jovem Luana do Amor Divino, de 18 anos, a canalizar suas emoções e reflexões através da arte. Durante sua passagem por medidas socioeducativas, ela encontrou na poesia uma forma potente de se expressar.
No dia 18 de setembro, Luana lançará seu primeiro livro, Quem diria, do CASE à poesia!, no Fórum de Luziânia. A obra é uma coletânea de versos que retratam a trajetória da adolescente e suas transformações.
“É uma forma de expressar o que senti, porque não consigo falar, mas escrevendo eu consigo me expressar”, compartilhou Luana em entrevista.
As motivações para seus poemas são profundas, nascendo do desejo de mudança e da dor ao testemunhar o sofrimento de sua mãe. “Eu quis mudar bastante. Fui vendo o que podia melhorar. Aqui dentro, passa um filme do que acontece. A gente procura um meio de não se sentir tão sozinha, e escrever alivia”, relatou a jovem.
Luana do Amor Divino, interna do CASE Luziânia/GO, lançará livro de poesias nesta terça-feira, 18. (Imagem: Arquivo pessoal)
Para Luana, a poesia se estabelece como um verdadeiro refúgio e uma forma de enfrentar as adversidades. “A arte, para mim, é uma forma de resistência”, enfatizou.
A obra poderá ser adquirida na Amazon, e Luana acredita que suas palavras poderão inspirar outras pessoas. “Acho que meu livro vai trazer inspiração. Pela história, eu acho”, afirmou.
Natural de Goiás e irmã de cinco, Luana aprecia ouvir sertanejo, assistir filmes de ação e ler romances. No CASE, dedica tempo à biblioteca local, onde fez contato com várias obras, sendo Melancia, de Marian Keyes, o último livro que leu.
Hoje, 18 de setembro, Luana marca um novo capítulo em sua história. Ela revelou que a jornada literária ainda está longe de terminar. “Tenho páginas que não entraram no livro, já estou preparando o segundo”, contou, acrescentando que seus planos incluem a conclusão dos estudos e a escolha do curso de Letras.
Livro de Luana do Amor Divino Caetano estará disponível na Amazon para venda. (Imagem: Arquivo pessoal)
Leitura e escrita que transformam vidas
Luana encontrou no projeto Eu Leitor, Eu Escritor, idealizado pela pedagoga e mestranda Josélia Macedo, um apoio fundamental durante sua internação no CASE. Essa iniciativa tem se mostrado crucial para a ressocialização de adolescentes que se encontram em medidas socioeducativas.
O projeto utiliza livros, filmes e documentários para fomentar a reflexão e o aprendizado, abordando temas variados como política, história, entretenimento e religião.
Adolescentes do CASE Luziânia participam do projeto “Eu leitor, eu escritor”. (Imagem: Arquivo Pessoal)
A agente socioeducativa e assistente social Elcimar Salomão, membro do projeto, explica que “o projeto existe há mais de seis anos e trabalha a perspectiva do autoconhecimento, ajudando os adolescentes a refletirem sobre quem são, onde estão e aonde querem chegar.”
A abordagem do projeto vai além da mera oferta de livros; visa criar uma conexão com os jovens, permitindo que compreendam a relevância da leitura e da escrita em suas vidas.
“Quando um adolescente chega à unidade, buscamos conhecê-lo, entender seu histórico e criar um vínculo. Não chegamos simplesmente apresentando um projeto. É um processo gradual”, completa Elcimar.
A produção do livro de Luana levou cerca de nove meses e incluiu intensa orientação e estímulo à escrita, promovendo um impacto que ecoa muito além das páginas da obra.
O impacto do projeto “Eu Leitor, Eu Escritor” já produz resultados visíveis em outras trajetórias. Em 2022, outro jovem, à época com 17 anos, lançou seu próprio livro após receber apoio integro da equipe socioeducativa.
Intitulado O Príncipe das Grades: Um relato de experiência na socioeducação, a obra compreende 70 páginas e inclui ilustrações feitas pelo próprio autor.
Nela, ele relata a descoberta de seu verdadeiro pai durante a infância, suas relações com o tráfico e a luta contra a dependência química.
Além de incentivar a literatura, o projeto também atua na alfabetização de adolescentes que chegam sem habilidades básicas de leitura e escrita, preparando-os para exames como o Enem – Exame Nacional do Ensino Médio, ampliando suas oportunidades no mercado de trabalho após a desinternação.
“O estudo é tudo. Nosso objetivo é que eles possam enxergar além do espaço onde estão. Muitos chegam sem perspectivas, mas ao longo do tempo conseguimos ajudá-los a identificar seus potenciais e vislumbrar um futuro diferente”, conclui Elcimar.
A idealizadora do projeto “Eu leitor, eu escritor”, Josélia Macedo e a colaboradora Elcimar Salomão. (Imagem: Arquivo pessoal)
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