Revolução Tecnológica: O Primeiro Computador Biológico Une Neurônios Humanos e Silício para Potencializar a Inteligência Artificial

CL1: primeiro computador biológico combina neurônios humanos e silício para trabalhar com IA
Créditos: Divulgação/Cortical Labs

A startup australiana Cortical Labs lançou recentemente o CL1, uma inovação que pode ser considerada um marco na história da computação: o primeiro computador biológico comercialmente disponível. Esta tecnologia pioneira alia neurônios humanos cultivados em laboratório ao silício, criando um sistema que se adapta e aprende de forma análoga ao cérebro humano.

O CL1 foi apresentado durante o Mobile World Congress (MWC) 2025 em Barcelona e traz à tona o conceito de Inteligência Biológica Sintética (SBI – Synthetic Biological Intelligence). Este conceito é visto como uma alternativa promissora à inteligência artificial tradicional.

Com um preço inicial impreciso de US$ 35.000, a Cortical Labs espera que as primeiras unidades sejam entregues a pesquisadores e desenvolvedores já em junho deste ano.

Divulgação/Cortical Labs

Como funciona o CL1?

O CL1 opera como um sistema híbrido onde neurônios humanos cultivados a partir de células-tronco são posicionados sobre um chip de silício, possibilitando a comunicação bidirecional:

  • O chip envia impulsos elétricos para estimular os neurônios;
  • Os neurônios processam a informação e geram novas respostas;
  • O sistema registra e analisa essas respostas, aprimorando sua capacidade de aprendizado.

Para garantir a viabilidade dos neurônios, o CL1 possui um sistema de suporte vital avançado, que regula temperatura, troca de gases, nutrição e remoção de resíduos, assegurando a funcionalidade das células por longos períodos.

Divulgação/Cortical Labs

Segundo a Cortical Labs, este modelo de computação biológica pode aprender mais rápido do que sistemas de IA convencionais e consumir muito menos energia. A título de comparação, treinar um modelo de IA como o GPT-3 requer cerca de 1.300 megawatts-hora, equivalentes ao consumo anual de 130 residências nos EUA, enquanto um rack com 30 unidades CL1 consome apenas 850 a 1.000 watts.

A economia energética se destaca como um dos principais atrativos do CL1, com potencial para reduzir o impacto ambiental das tecnologias de IA.

Reprodução/Jacinta Bowler da ABC Science

Histórico e desenvolvimento: do DishBrain ao CL1

O CL1 resulta de mais de seis anos de pesquisa na Cortical Labs. Em 2022, a empresa ganhou notoriedade ao desenvolver o DishBrain, que reúne 800.000 células cerebrais e foi treinado para jogar Pong, um experimento que demonstrou a capacidade de aprendizado das redes neurais biológicas.

O DishBrain evidenciou que neurônios cultivados podem ser treinados para realizar tarefas específicas por meio de estímulos, recompensas e feedback. Este sucesso foi fundamental para o desenvolvimento do CL1, que agora está preparado para aplicações mais avançadas.

Divulgação/Cortical Labs

O que torna a Inteligência Biológica Sintética diferente da IA tradicional?

O CL1 se destaca pela sua abordagem inovadora em relação à inteligência artificial. Diferente dos modelos tradicionais, que dependem exclusivamente de processamento de dados em chips de silício, o CL1 utiliza redes neurais biológicas. Esta metodologia oferece vantagens cruciais, tais como:

  • Menor consumo de energia, resultando em uma pegada de carbono reduzida para a computação de alto desempenho;
  • Aprendizado mais ágil, permitindo que o sistema faça inferências a partir de dados limitados;
  • Capacidade de adaptação, tornando o sistema eficiente em tarefas que requerem flexibilidade e interpretação contextual.

A interação entre os neurônios e o chip cria um canal de comunicação de alta largura de banda entre a rede biológica e os componentes digitais, facilitando a integração do CL1 com outras tecnologias computacionais.

Possíveis aplicações da computação biológica

O CL1 tem potencial para transformar diversas áreas, incluindo:

1. Inteligência Artificial e Machine Learning

A computação biológica pode possibilitar o desenvolvimento de IA mais eficiente e adaptável, capaz de realizar tarefas complexas, como interpretação de padrões, reconhecimento de voz e visão computacional, com uma menor necessidade de treinamento extensivo.

2. Pesquisa Biomédica e Modelagem de Doenças

Pode ser utilizado para testar novos tratamentos e medicamentos em um ambiente que simula o comportamento real do cérebro humano, promovendo avanços na compreensão de doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson.

3. Desenvolvimento de Novas Interfaces Cérebro-Máquina

Com sua estrutura híbrida, o CL1 é capaz de servir de base para interfaces neurais avançadas, promovendo a comunicação entre humanos e máquinas, como próteses neurais que podem ser controladas diretamente pelo pensamento.

4. Simulação de Redes Neurais Naturais

O estudo do comportamento dos neurônios do CL1 pode oferecer novos insights sobre o funcionamento do cérebro, contribuindo para pesquisas em neurociência e psicologia cognitiva.

O CL1 é um marco para tornar a computação biológica acessível a pesquisadores e inovadores, sem a necessidade de hardware ou software especializado.

Hon Weng Chong, CEO da Cortical Labs.

Divulgação/Cortical Labs

Wetware-as-a-Service (WaaS): Acesso Remoto à Computação Biológica

Além da versão física, a Cortical Labs disponibilizará o CL1 como um serviço baseado em nuvem, chamado Wetware-as-a-Service (WaaS).

Essa solução permitirá que pesquisadores do mundo todo acessem o sistema remotamente para testar algoritmos, executar simulações e desenvolver novas aplicações sem a necessidade de infraestrutura física própria, democratizando o acesso à tecnologia.

Desafios e Questões Éticas

Apesar do entusiasmo gerado pelo CL1, a computação biológica ainda enfrenta desafios consideráveis. A manutenção de neurônios vivos e funcionais fora de um ambiente biológico natural requer tecnologias sofisticadas, o que pode dificultar a escalabilidade na produção desses sistemas.

Divulgação/Cortical Labs

Além disso, surgem questões éticas e filosóficas relacionadas ao uso de neurônios humanos na tecnologia. Embora as células utilizadas no CL1 sejam cultivadas a partir de células-tronco e não tenham consciência, há preocupações sobre os limites da IA biológica.

A bioeticista Silvia Velasco, do Instituto Murdoch de Pesquisa Infantil, ressalta a importância de regulamentações claras:

Embora esses sistemas ainda sejam primitivos e distantes de qualquer tipo de consciência, é essencial antecipar e debater os impactos éticos dessa tecnologia antes que se tornem uma realidade mais complexa.

Com isso em mente, a Cortical Labs trabalha em colaboração com pesquisadores, cientistas e especialistas em ética para assegurar que o desenvolvimento do CL1 siga princípios responsáveis e seguros.

Um Novo Paradigma para a Computação

O lançamento do CL1 representa o início de uma nova era na computação, onde máquinas e redes neurais biológicas podem trabalhar em parceria para aprimorar o processamento de informações.

Com potencial para transformar áreas como IA, neurociência e medicina, a computação biológica pode sinalizar um dos avanços mais marcantes do século XXI, embora seu desenvolvimento exija uma reflexão aprofundada acerca dos limites éticos e científicos que essa nova fronteira impõe.

O CL1 abre portas para um futuro onde a inteligência artificial se torna mais natural, eficiente e integrada ao funcionamento do cérebro humano.

Fonte: Cortical Labs

Leia a matéria na integra em: www.adrenaline.com.br

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