Onde deveria passar o Rio Joana, na Zona Norte, está completamente seco. Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
A Seca Extrema do Rio Joana e Seus Efeitos no Ecossistema Local
Na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Rio Joana, que flui através da Grande Tijuca, está enfrentando uma seca severa, especialmente na área que passa pela Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Dados do Sistema Alerta Rio mostram que fevereiro de 2025 foi o mês mais seco dos últimos 28 anos, com chuvas abaixo do esperado.
O Rio Joana, um importante afluente do Canal do Mangue, que desemboca na Baía de Guanabara, abastece bairros como Andaraí, Tijuca, Vila Isabel e Maracanã. De acordo com Julio Wasserman, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Biossistemas da Universidade Federal Fluminense (UFF), a pequena dimensão da bacia ao redor do rio faz com que ele reaja rapidamente às mudanças climáticas.
“Quando chove muito, ele inunda. Quando chove pouco, ele seca”, explica Wasserman. “A intensa seca deste fevereiro fez o rio secar totalmente, pois os solos perderam a capacidade de reter água devido à impermeabilização, como as construções e calçadas cimentadas. Assim, os períodos sem chuva afetam gravemente o fluxo de água”, completa.
Adacto Ottoni, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), expressa sua preocupação com a falta de áreas verdes e a impermeabilização do solo na região. “Precisamos de um crescimento ordenado e do cultivo de áreas verdes. A impermeabilização impede a infiltração da água, o que resulta na escassez hídrica. Em pleno fevereiro e março, o Rio Joana seca, e isso é alarmante. Se houvesse maior infiltração na bacia, a situação não seria tão crítica”, aponta.
Soluções em Potencial
Julio Wasserman sugere que a criação de jardins de infiltração e outras estratégias ecológicas possa ajudar a reabastecer o lençol freático e recuperar o rio. Ele reforça que a diminuição do fluxo do Rio Joana não impacta diretamente o abastecimento de água da cidade, já que a cidade depende do Sistema Guandu para o fornecimento de água.
No entanto, a recuperação do corpo hídrico traria benefícios ambientais, promovendo um ambiente mais saudável e permitindo que o rio volte a ser um habitat para peixes e outras formas de vida”, acrescenta.
Wasserman ressalta que, embora o calor intenso não seja o único fator responsável pela seca, a maior preocupação é a falta de chuvas e a incapacidade do solo de reter água. Por outro lado, Adacto Ottoni defende a implementação de políticas públicas eficazes. “Medidas para reter água de chuvas intensas, controlar a erosão e promover um uso ordenado do solo poderiam mudar o cenário atual. Temos tecnologias para isso, mas nosso sistema de drenagem está sobrecarregado”, lamenta.
Embora fevereiro seja historicamente um mês seco, Wasserman alerta que as mudanças climáticas e a destruição da vegetação estão exacerbando a situação. “Embora a redução do fluxo em fevereiro seja comum, a tendência é de piora, o que resultou na secura extrema deste ano”, conclui.
Temperaturas Elevadas e Efeitos da Estiagem
No último mês, a média pluviométrica foi de apenas 0,6 mm, quando o esperado era de 123 mm, marcando a menor taxa em 28 anos. Essa escassez de chuvas, combinada com temperaturas elevadas, destaca a diminuição da disponibilidade hídrica em mananciais que fornecem água à região metropolitana do Rio, cuja medição está muito abaixo do normal.
A meteorologista Raquel Franco aponta que, em fevereiro, a temperatura média costuma ser de cerca de 35°C, mas neste ano, os registros chegaram a 38°C. “Estamos sob uma massa de ar quente que impede a chegada de frentes frias. As chuvas que temos sido apenas fracas e insuficientes para reverter esse cenário”, explica.
No horizonte, não há previsão de chuvas volumosas para o Rio de Janeiro até meados de março. Estudos indicam que o aquecimento global tende a intensificar os fenômenos climáticos, tornando as situações de estiagem mais frequentes e severas.
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