Movimento Social Lembra Vítimas da Ditadura em Ato no Rio de Janeiro
Nesta quinta-feira (27), movimentos sociais e organizações de direitos humanos se reuniram em frente ao 1º Batalhão de Polícia do Exército do Rio de Janeiro para o ato Ocupa Rubens Paiva: Tortura Nunca Mais.
O local, que foi sede do DOI-Codi, é lembrado como um centro de prisão ilegal, tortura e morte durante o regime militar instaurado pelo golpe de 1964. Dentre os muitos que sofreram ali, destaca-se o engenheiro e político Rubens Paiva, cuja história é emblemática do período de repressão.
O ato também marcou os 10 anos da inauguração do busto em homenagem a Rubens Paiva, localizado na Praça Lamartine Babo, em frente ao prédio do Exército. A homenagem foi uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio (Senge-RJ) e da Comissão Estadual da Verdade.
“Esse foi um local de covardias, tortura e morte. Precisamos manter a memória do que houve, para que nunca mais ocorra novamente. Tivemos uma tentativa recente de golpe. O que mostra que temos sempre que estar atentos e mobilizados”, declarou Olímpio Alves dos Santos, presidente do Senge-RJ.
Dentre as entidades presentes, destacaram-se a SOS Brasil Soberano, o Clube de Engenharia, o Levante Popular da Juventude, a Frente Internacionalista dos Sem Teto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Grupo Tortura Nunca Mais, a União de Negras e Negros pela Igualdade, a União Brasileira de Mulheres e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Uma das reivindicações centrais do ato foi a transformação da antiga sede do DOI-Codi em um Museu da Memória, dedicado às vítimas da ditadura militar. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já se manifestou, afirmando que sua prioridade em 2025 é o processo de tombamento do edifício, seguindo recomendações do Ministério Público Federal (MPF) que tramitam desde 2013.
Joana Ferraz, historiadora e integrante da diretoria do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, defende a transformação do espaço em um museu. As memórias dessa época, segundo ela, devem ser revisitadas constantemente.
Crescendo em um ambiente em que o pai de Joana, o padre João Daniel de Castro Filho, foi torturado, ela enfrentou barreiras dentro da própria família ao tentar resgatar essa memória para transformá-la em luta.
“Mini história me persegue desde sempre. Isso me levou a estudar o tema de forma mais profunda. Minha mãe dizia que não podíamos comentar o que ouvíamos em casa. Esse silêncio me incomodava. Eu pensava: por que não podemos falar? Isso me causava medo, mas é preciso enfrentar esse passado”, explicou Joana.
Outro depoimento impactante veio de Luis Zorraquino, arquiteto espanhol que vive no Brasil há quase três décadas. Sua falecida companheira, Estrella Bohadana, foi vítima de tortura durante a ditadura, e sua história não pode ser esquecida.
Estrella liderava um movimento de trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e foi detida, passando por torturas brutais, incluindo um aborto forçado. Luis relembra o sofrimento que ela suportou.
“Ela sofreu torturas extremas, como choques elétricos. Muitas barbaridades. Estar aqui hoje é uma forma de homenagear todos os revolucionários, especialmente Rubens Paiva e sua família”, destacou Luis.
Para Luis, o silêncio sobre esse passado não é uma opção. Mesmo após a perda da companheira, ele continua ativo na luta por justiça e memória, reafirmando que a tortura deixa cicatrizes permanentes.
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